Portal registra aumento de vagas anunciadas para 50+, acompanhando estatísticas de maior contratação entre profissionais da faixa etária
O portal Empregos.com.br registrou, em setembro, um crescimento de 165,71% das vagas anunciadas a pessoas com mais de 50 anos, comparado a janeiro de 2021. No acumulado do ano, até esse mês, o site já havia publicado 500 postos de trabalho que demandavam profissionais sêniores. Entre os cargos preenchidos estão desde funções emergentes, ainda incomuns para o mercado e para a faixa etária em questão, até consultores, mentores, entre outras lideranças.
O percentual informado pelo Empregos acompanha outros movimentos do mercado. A plataforma Gupy revelou, no primeiro semestre de 2021, num universo de 60 mil vagas anunciadas mensalmente, o preenchimento de 10% desse contingente por profissionais 40+ – um crescimento de 217% nas contratações sêniores por meio do portal. Os cargos então ocupados por esse público têm relação com as áreas que mais recrutaram pelo site no período: Operações, Serviço ao Cliente, Tecnologia, Comercial, Finanças e Administração.
Estatísticas positivas para um Brasil que terá 22% de população idosa, até 2050 (dados do IBGE), e que enfrenta índice de desemprego para os 50+ na casa dos 5% (com mais de 400 mil idosos desempregados durante a pandemia). Isso lembrando, ainda, previsão recente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), em que mais de 50% da população economicamente ativa no Brasil será de 40 + em até 30 anos.
Filtros contra a discriminação
Leonardo Casartelli, diretor de Marketing do Empregos, reconhece, no entanto, a demanda ainda bem menor do que a oferta de profissionais. Só no portal, são 20 mil candidatos sêniores ativos nos últimos meses (entre 82 mil cadastrados da faixa etária, ao todo) para as vagas que, até setembro, totalizaram 500 registros. Casartelli comenta o grande interesse desses profissionais em participar do mercado (muitos até já aposentados, mas que querem dar sua contribuição ou precisam complementar a renda).
Fora os usuários do portal, “recebemos muitos contatos por redes sociais”, conta o executivo. Para que o mercado possa absorvê-los, há um esforço do site em desmistificar a contratação de sêniores, explica o executivo. Para começar, há uma pesada auditoria das vagas anunciadas para evitar qualquer tipo de preconceito, incluindo o etário – uma média de 100 mil novos postos de trabalho por mês são cadastrados no portal.
O filtro, explica Casartelli, é humano e algorítmico, realizado por uma equipe de pelo menos 50 pessoas. Time que, muitas vezes, contacta o recrutador para saber por que a vaga está sendo divulgada daquele jeito e explicar como as coisas devem funcionar, traçar o melhor caminho para a divulgação e para o mercado.
“Dentro do Empregos, é possível fazer a análise do candidato somente por hard skills ou outras habilidades desejadas, faixa salarial pretendida, não é nem obrigatória foto no perfil do profissional”, explica Casarteli sobre a possibilidade de uma seleção quase às cegas por meio do portal. As empresas, no entanto, têm suas crenças e viéses, e esse tipo de recrutamento é algo ainda incipiente no país, entende o executivo.
“Trata-se de uma realidade comum somente, ainda, a multinacionais bem engajadas ou startups que já nasceram em um contexto diferenciado”, revela. Entre as ideias a serem descontruídas nos RHs das companhias mais tradicionais estariam a de que o profissional sênior está sempre relacionado a alto investimento, a de que ele possui um perfil de pouca atualização ou dificuldade em absorver as novas tecnologias, menciona o especialista.
“As empresas precisam perceber que, muitas vezes, caso haja necessidade uma atualização técnica desse profissional, hoje ela é rápida, com os diversos EADs que surgiram – e esses profissionais já vêm se atualizando”, destaca Casartelli. “Os recrutadores, que geralmente associam senioridade a um alto custo, podem, sim, encontrar qualificação a um valor justo e ter na empresa um profissional sênior e toda a sua bagagem. Uma liderança, que muitas vezes não é técnica, mas que leva em conta fatores ligados a soft skills, por exemplo, e pode ser uma inspiração para os mais jovens na empresa”.
Preconceito persiste
Uma pesquisa divulgada no primeiro semestre por outro grande portal, o Infojobs, revelou, por sua vez, a percepção do público 40+ sobre os processos de recrutamento. O site tem, hoje, 1.811.835 cadastrados nessa faixa etária (sem menção aos verdadeiramente ativos), e o levantamento mostra que a dificuldade em conseguir trabalho, na realidade, é notada já entre profissionais a partir dos 40 anos.
O estudo apontou que 70,4% desses profissionais já sofreram preconceito no mercado de trabalho, por conta de discriminação etária. Na percepção de 78,5% deles, o mercado não dá as mesmas chances para os sêniores. Apenas 12,8% relataram uma média de 50% de funcionários 40+ na empresa em que trabalham, enquanto 25,1% dizem que a média está entre 20% e 50%, e 26,6% afirmam que esse número está entre 5% e 20%. O levantamento foi feito no primeiro semestre do ano e ouviu 4.588 profissionais de 40 a 50 anos, de 50 a 60 e de mais de 60 anos.
O portal também oferece soluções de RH, com medidas para minimizar o preconceito, além de produzir conteúdos como web séries sobre o tema, por exemplo. Segundo Ana Paula Prado, Country Manager do InfoJobs, as ferramentas oferecidas facilitam a seleção às cegas e a resposta de profissionais 40+ sem acesso a qualquer menção etária, minimizando viéses. “Mas a conscientização deve vir antes, para que a parte humana do processo não viabilize o preconceito”, entende Ana Paula. “É preciso conhecer o profissional sem qualquer pré-julgamento”.
Fonte: Mundo RH
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