Após meses de um quadro elevado de demissões e fechamento de vagas, o mercado de trabalho no Brasil está dando pequenos sinais de melhoria.
Dados do Ministério da Economia mostram que o país voltou a gerar mais empregos do que demissões em julho, atingindo um saldo positivo de mais de 131 mil vagas abertas.
Essa evolução ocorre após quatro meses consecutivos de queda. Segundo os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), no mesmo período foram contratados pouco mais de 1 milhão de trabalhadores formais, o que fez desse mês, em termos absolutos de contratações, o melhor julho em oito anos.
Agora, passado mais de meio ano do início da pandemia, percebemos o mercado de trabalho esboçando uma corajosa reação, ainda que tímida, inclusive de segmentos que foram muito afetados com a situação, como é o caso do setor de serviços.
Já na indústria, podemos enxergar um caminho de retomada econômica muito melhor traçado e próximo de acontecer.
Excetuando os tristes níveis de mortalidade e as inúmeras dificuldades ainda enfrentadas por muitas pessoas e empresas, podemos destacar que este período de pandemia tem nos trazido lições que certamente farão parte do cenário pós-pandemia, principalmente no que se refere às relações entre as pessoas e como elas estão lidando com seu dia a dia de trabalho.
Em meio às diversas questões reflexivas e desafiadoras que colocaram à prova os mais estranhos sentimentos e dúvidas sobre o futuro, uma foi despertada de forma muito positiva nas pessoas: a capacidade de adaptação.
Esse, definitivamente foi um dos poucos pontos favoráveis que esta crise mundial de saúde (e econômica) nos trouxe.
Muitas empresas – que possuíam uma cultura organizacional mais formal, presa a formatos arcaicos de trabalho e costumes baseados em controle – tiveram que mudar a forma de gerir seus negócios e seus colaboradores, assumindo uma postura mais ágil e flexível em diversos aspectos, para que os resultados e os impactos negativos não fossem tão destruidores ou danosos para a organização.
Para não serem engolidas pelo cenário que se instalou sem avisar ou pedir licença, as empresas tiveram que promover suas adaptações às pressas e sem grandes ensaios, o que trouxe à tona outros dois importantes aprendizados: o uso efetivo da tecnologia e a aceitação das relações interpessoais remotas.
Diante desta brusca, porém inevitável construção do “novo normal”, as organizações foram flexibilizando controles e mostrando cada vez menos dependência de suas estruturas físicas.
Por consequência, novas e criativas formas de produzir e fazer negócios foram surgindo, estreitando exponencialmente a relação entre clientes e fornecedores, mesmo que a distância.
Agora, todos entendem que é possível trabalhar de qualquer lugar do mundo, bastando ter um notebook e um celular com acesso à internet.
Antes isso era até pensado, discutido, mas jamais praticado pela maioria das empresas, que ainda preferiam aglomerar suas equipes em escritórios cada vez mais compactos e povoados, com as próprias pessoas demandando necessidades de contato presencial, num ciclo vicioso e baseado exclusivamente em um modelo de convívio no qual todos estavam inseridos.
A partir da quebra desse paradigma corporativo, o entendimento de que um profissional pode trabalhar, alcançar seus resultados e manter elevados níveis de produtividade, mesmo longe do seu gestor e afastado da estrutura física da empresa, passou a ser latente e real, inclusive com variáveis de reconhecimento e valorização por meio de diferentes métricas e indicadores, que trouxeram um novo olhar à gestão de pessoas.
Contudo, é natural também que a construção desta nova relação entre gestor e colaborador se baseie mais fortemente na confiança e menos no controle, dando assim maior valor e foco ao cumprimento independente dos processos, às responsabilidades e à entrega dos resultados.
Outro ponto que será amplamente discutido e trabalhado pelas empresas no pós-pandemia e não exatamente agora, pois ainda estamos vivendo a crise, é a adequação formal ao teletrabalho, reflexo direto de todo esse processo de transição ao trabalho remoto – também conhecido como home office – que está previsto no artigo 75 da Reforma Trabalhista.
Diante disso, a área de Recursos Humanos terá que engajar-se nesse novo estudo de viabilidade, orientando e subsidiando seus decisores para um novo momento nas relações de trabalho e na gestão de pessoas, que tem evoluído a passos largos, num trajeto sem volta.
Enfim, diante de tantas questões que permeiam nosso incerto e ainda imprevisível futuro pós-pandêmico, podemos cravar que algumas coisas já indicam seu caminho definitivo, e uma delas é a tecnologia aproximando as pessoas, onde quer que elas estejam.
Hoje, podemos fazer entrevistas, avaliar, contratar e desenvolver pessoas a partir de qualquer lugar do mundo, de forma igualmente assertiva e humanizada, assim como era “à moda antiga”.
Cada vez mais as análises preditivas e os algoritmos, atrelados à (ainda) indispensável capacidade cognitiva humana, funcionarão como um direcionador de eficiência corporativa para as empresas, e de felicidade e realização de carreira para os profissionais.
A crise mundial de saúde causada pela pandemia passará, não temos dúvidas disso, mas os aprendizados e lições deixados são heranças que ditarão nossa nova realidade de mundo, sobretudo pela união cada vez mais forte entre pessoas e tecnologia.
Fonte: Jornal Contábil
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