Pesquisa revela que trabalhadores brasileiros estão 9% mais insatisfeitos com o trabalho do que a média global em um cenário que começa a existir “licença por infelicidade”
Já imaginou poder se ausentar do trabalho naqueles dias em que estiver insatisfeito com o serviço e poder tirar um dia de folga sem precisar da aprovação da liderança? Esse cenário já é realidade em uma empresa chinesa.
Recentemente, Yu Donglai, fundador e presidente da rede de varejo chinesa Pang Dong Lai, uma rede de supermercados chinesa com mais de 7 mil funcionários, lançou uma política inovadora na empresa de “licença por infelicidade”.
Os funcionários de sua companhia que estiverem insatisfeitos podem tirar um dia de folga, sem precisar da aprovação da liderança. Mas há um limite para sair do trabalho por motivos de estresse ou desânimo: segundo o jornal estatal People’s Daily, essa licença tem o limite de 10 folgas por ano.
O executivo Donglai é um dos defensores de qualidade de vida na China, mas segundo Renata Livramento, especialista em saúde corporativa e bem-estar e professora da Human SA, grupo educacional que avalia a qualidade de ambientes de trabalho, a ação da empresa chinesa, em termos de bem-estar e saúde mental dos funcionários, pode se tornar um tiro que sai pela culatra.
“Se tem algo de positivo na licença por infelicidade é o fato de admitir que momentos difíceis fazem parte da vida, mas em vez de a empresa estar cuidando ativamente para que as pessoas tenham mais bem-estar e felicidade no trabalho, a empresa simplesmente tira a responsabilidade de campo, ficando inteiramente por conta do indivíduo”, diz.
A empresa chinesa, além da licença por infelicidade, também adotou uma jornada de trabalho mais curta, de sete horas, o que pode ser dois grandes avanços em um país conhecido por uma cultura de trabalho intensa, afirma Livramento.
“Claro que é uma discussão mais ampla, porque considerando a cultura das empresas chinesas, talvez seja um avanço para eles, mas está muito longe do ideal e traz intrinsecamente uma visão equivocada de que se retirarmos o que nos gera infelicidade seremos, então, felizes. A ciência da felicidade nos mostra que não é bem assim”, diz Livramento.
A ciência da felicidade no trabalho
De acordo com a ciência da felicidade, a executiva explica que para que tenhamos bem-estar e felicidade no trabalho precisamos cuidar de aspectos hedônicos (que propiciam satisfação com a função e com a organização) e também de aspectos eudaimônicos (que propiciam realização pessoal, significado e importância).
“Estamos falando de um conjunto amplo de fatores que, juntos, vão favorecer a felicidade e a saúde mental no trabalho. Eles envolvem desde salários dignos, lideranças humanizadas, condições de trabalho adequadas, bom relacionamento com colegas, segurança psicológica, participação e voz, por exemplo, até alinhamento de valores pessoais e organizacionais, como equilíbrio vida profissional e vida pessoal e oportunidades de desenvolvimento”, afirma Livramento.
Para promover qualidade de vida no trabalho, e consequentemente funcionários mais felizes, a executiva da Human SA afirma que é preciso que a empresa avalie e capacite suas lideranças para estarem aptos a cuidar da própria saúde mental, assim como de seus liderados.
“Existem muitos exemplos de ações já sendo realizadas no Brasil que favorecem a felicidade no trabalho e que funcionam como um fator de proteção à saúde mental como regime de trabalho flexíveis, quando o cargo permite, promoção da diversidade e inclusão e definição de metas claras e realistas”, diz Livramento.
A felicidade do brasileiro pode ser no trabalho também
Um estudo realizado pela Pluxee, em parceria com a The Happiness Index, revelou que os trabalhadores brasileiros estão 9% mais insatisfeitos com o trabalho do que a média global. A pesquisa, que avaliou o nível de felicidade e engajamento de funcionários em mais de 100 países, ouviu mais de 23 mil profissionais entre fevereiro e março de 2024.
O estudo analisou dois principais aspectos: a felicidade, que engloba as condições de trabalho e oportunidades de crescimento, e o engajamento, que mede a conexão dos funcionários com suas funções e empresas. No quesito felicidade, o Brasil está 4% abaixo da média global, e, em termos de engajamento, a diferença aumenta para 10%.
Olhar para esses dados precisa fazer parte da estratégia de uma companhia, afirma Livramento, que reforça que a implementação de benefícios voltados para o bem-estar não apenas melhora a saúde física, mental e emocional dos funcionários, mas também influencia positivamente no resultado da organização.
“Quando apostamos em profissionais mais felizes, é possível ver como resultado a diminuição de absenteísmo e o aumento de engajamento e produtividade – tudo isso gerará maior lucratividade para a companhia”, afirma a executiva.
Fonte: Exame
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