Relatório da McKinsey relata que os empregos das mulheres são 1,8 vezes mais vulneráveis a esta crise do que os masculinos
O COVID-19 continua a impactar vidas e meios de subsistência em todo o mundo, especificamente as mulheres: um relatório da McKinsey relata que os empregos das mulheres são 1,8 vezes mais vulneráveis a esta crise do que dos homens. As mulheres representam 39% do emprego global, mas 54% da perda geral de empregos.
Uma das razões é que a pandemia aumenta muito a carga de trabalho não remunerado, suportada principalmente pelas mulheres. Além disso, as mulheres são mais vulneráveis aos efeitos econômicos relacionados ao COVID-19 devido às desigualdades de gênero já existentes no mundo inteiro
Um estudo qualitativo foi realizado na França pela faculdade de gestão Audencia Business School, a través de 85 questionários e anotações em diários de 20 pessoas durante as primeiras três semanas de confinamento. Essa pesquisa revelou que essa experiência inédita impulsionou a busca pela igualdade de gênero e a prejudicou na mesma proporção. O COVID-19 tem sido um catalisador no desenvolvimento de comportamentos específicos de gênero para lidar com a crise e ao mesmo tempo, pode ter um efeito positivo na igualdade de gênero. Duas tendências distintas emergiram dos dados coletados.
Estereótipos
Por um lado, os papéis estereotipados de gênero se intensificaram: os homens tendam a exibir uma atitude de força e controle, enquanto as mulheres frequentemente admitem que se sentem ansiosas e estressadas por não cumprirem seus deveres domésticos.
Por outro lado, a crise do COVID-19 aumentou a consciência sobre o sistema tradicional de papéis de gênero e, em alguns casos, apresentou uma oportunidade para desconstruí-lo ou desmontá-lo. Homens e mulheres enfatizaram que a crise os inspirou a mudar seu equilíbrio entre vida profissional e familiar e a adotar modos mais igualitários de coabitação. Por exemplo, alguns entrevistados relataram que a crise reduziu a pressão auto-imposta para ser produtivo e que isso enfraqueceu a importância dos papéis tradicionais de gênero como o “pai ganha-pão” ou a “mãe perfeita”.
Mulheres e homens viram a crise como um convite para refletir sobre suas reais necessidades e prioridades em termos de equilíbrio entre vida profissional e familiar e foi uma oportunidade de reinventar suas relações entre si. Essa sensação de liberdade foi relatada por uma das participantes: “Dependemos muito da perceção e do julgamento dos outros, do nosso consumo, do nosso trabalho. Agora me sinto mais à vontade para fazer as minhas escolhas”.
Estratégias
Em nosso estudo, observamos que, no início do confinamento, as estratégias para lidar com circunstâncias extraordinárias aumentaram os estereótipos de gênero, no sentido de proporcionar uma estrutura para ação que seria inconcebível de outra forma: quando ocorre um desastre, os estereótipos de gênero podem fornecer uma direção inicial em meio ao caos; compensa e tranquiliza ao mesmo tempo que oferece uma perspectiva temporária de ordem.
No entanto, à medida que a pandemia progrediu, surgiu a necessidade de uma nova abordagem: algumas pessoas buscaram obstinadamente manter seus papéis de gênero, mesmo trazendo infelicidade, enquanto outras optaram por abandonar os papéis tradicionais em favor de algo “mais significativo”.
Durante a crise do COVID-19, sem regras de comportamento e sem ferramentas de performatividade, estratégias improvisadas de autogoverno surgiram em famílias quando os membros entraram em território desconhecido. Como numa improvisação musical, eles não sabem onde a crise iria levá-los ou quando vai terminar, mas como as diretrizes e prescrições de gênero foram suspensas ou se tornaram discutíveis, algo significativo, único e inimitável pode surgir e se materializar.
Quando uma estrutura de papéis tradicionais deixa de fazer sentido, a construção de uma nova organização de relacionamentos é necessária.
Nossa pesquisa mostrou que a liberação e a aspiração de mudança não começam quando os indivíduos tentam reconciliar seu antigo e novo eu, suas experiências passadas e presentes, suas identidades pessoais e profissionais.
Essa liberação acontece quando os indivíduos desistem inteiramente da possibilidade de tal reconciliação e se recusam resolutamente a ser orientado por normas comportamentais pré-crise. Para explorar novas possibilidades, fazer novas resoluções e alcançar novos ideais descobertos durante a pandemia, os indivíduos precisam ter a coragem de ir além da complacência de gênero. Só a partir daí a igualdade entre homens e mulheres em casa poderá ser considerada e implementada.
Fonte: Melhor RH
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